segunda-feira, 19 de abril de 2010

Compra Lá Pra Mim.

Olá Pessoal.
Sejam bem vindos ao meu Quarto Post.

Esse é dedicado a geração pré-internet, aqueles garotos que conseguiram umas espinhas a mais do que deveriam nos primeiros anos de sua adolescência.

Sem sombra de dúvida a geração YouTube perdeu o que eu entendo como uma das melhores fases da infância e da juventude. Os perigos e as aventuras passadas pelos "experientes" Marceneiros de Quintal, não metiam o medo que era, para qualquer pré-adolescente, conseguir uma revista de Mulher Pelada.

O Cenário

Nós estamos em Areia, uma cidadezinha pacata do brejo paraibano, em meados de 1992. Os valores e a tradição familiar ainda imperam, e a principal fonte educadora é o Colégio Santa Rita, uma escola de tradição e sob regime de Freiras Franciscanas vindas da Alemanha.
Nem se pensava em internet caseira. Na verdade quase não existiam computadores nas casas de muita gente. Kit Multimídia então? Banda Larga e Monitor Colorido eram coisa de filme Sci-Fi. (e lembre que não faz muito tempo os supercomputadores dos filmes eram máquinas enormes cheias de botões e luzinhas coloridas piscando que nem eram computadores de verdade, muitos deles não tinham nem monitor...)
A cidade possuia UMA (01 unidade) Banca de Revistas, que mais parecia um beco sem saída, e a principal atendente era uma senhora no auge de seus 60 anos de idade.

O Dilema, os Problemas e a Missão

No auge dos hormônios, conseguir qualquer tipo de material pornográfico era quase uma tarefa do Seriado Missão Impossível. Quando se tinha notícia de alguém que possuia um material desse tipo todos encaravam a pessoa como a frente de seu tempo, revolucionário ou mesmo rebelde.


Típico exemplo de Revista Antiga. Anúncios provocantes
levavam os garotos a cobiçarem a revista.

Veja que estamos falando aqui de uma simples revista, nada de filme, uma pobre revistinha, a maioria das vezes com fotografia em preto e branco e algumas, não raras vezes, com desenhos, manuais mesmo, de pornografia.
Essas revistas eram tratadas como se fossem as últimas existentes após uma guerra nuclear, material raríssimo e de valor inestimável, logo sendo protegidas como tal.

Em algumas revista as cenas eram desenhos feitos
a mão mesmo, nunca vi coloridos.

O medo de sermos dedurados aos nossos pais, e até mesmo a timidez de irmos até a Banca de Revistas pedir uma revistinha que vinha dentro de um plástico lacrado com letras garrafais pretas dizendo PROIBIDO PARA MENORES DE 18 e em alguns casos 21 ANOS, nos fazia recorrer aquele conhecido mais velho e experiente (geralmente com 14 ou 16 anos). Mesmo recorrendo a eles ainda  corríamos o risco de sermos ridicularizados pela nossa timidez excessiva. Vinha então a pergunta que dá nome ao Post, Compra lá pra mim?

Nesses casos, muitas vezes depois da aula, entravamos primeiro na Banca de Revista como se estivéssemos interessados naquela revistinha da Turma da Mônica ou outra revistinha de Atividades Infantis. A gente ficava olhando e depois de um tempo saíamos dirigindo o nosso olhar para a prateleira especial que ficava na parede,  não por acaso, acima da cabeça da dona da Banca de Revistas. Era quase impossível olhar a revista e não dar de cara com o olhar dela nos encarando. Quando isso acontecia era comum o menino tremer as pernas e gaguejar, na INÚTIL tentativa de dirfarçar seu interesse na pornografia, falando alguma coisa.

O fato era que a gente saía da Banca de Revistas e descrevíamos, para aquele conhecido, a revista que mais havia chamado nossa atenção. "... é uma revista amarela, que tem uma mulher ruiva na capa, com o cabelo em cachos encaracolados e está usando um vestido vermelho..."
O conhecido entrava lá e minutos depois voltava com uma revista que rapidamente colocavamos dentro da mochila onde levávamos nossos livros escolares.


Mais um exemplo da Tentação do Diabo.

Partíamos para casa e veja o que acontecia.
Normalmente quando se chega em casa depois da escola você entra vai para seu quarto joga a mochila na sua cama e sua mãe nunca, eu disse NUNCA, ia olhar nada na sua mochila.
Quando estávamos de posse da revista proibida, ao invés de seguirmos a mesma rotina e não despertar nenhuma suspeita, fazíamos o maior circo.

Você chegava em casa e já demorava o maior tempo para entrar, esperando todos entrarem na sua frente para não levantar suspeitas você ficava arrudiando a casa umas 10 vezes. Depois você entrava sem falar com ninguém e não desviava o olhar pra onde quer que fosse, para não levantar suspeitas. Colocava a mochila totalmente alinhada e justificada no meio da cama, completamente alinhada com os travesseiros, tudo para não levantar suspeitas. Ia para a cozinha almoçar e não dizia uma palavra, quando normalmente passaria o almoço falando, somente pensando na revista, para não levantar suspeitas. Quando sua mãe esboçava a menor reação de fazer uma pergunta, rapidamente você ficava com olhos e ouvidos bem abertos para responder de primeira e, sem sucesso, da forma mais natural possível com o intuito de não levantar suspeitas.
Terminava-se a refeição e corria-se para o quarto verificar a integridade do pacote secreto que ninguém havia sequer chegado perto, graças, claro, a todas as medidas de segurança que havia tomado. Tirava a revista da mochila e rapidamente escondia no lugar mais secreto possível. Embaixo da cama, dentro daquela pilha de brinquedos que sua mãe nunca mexia, dentro do armário, dentro daquele boneco oco, etc.. cada um usava a imaginação que tinha. Só depois você ficava mais tranquilo, mas sempre atento para uma mudança no comportamento de sua mãe.

Quando seus pais anunciavam uma viagem que você normalmente daria tudo pra ir, vinha a resposta: "num vou não... tô sem vontade...". Essa era a oportunidade perfeita para olhar aquela revista especial. Você esperava ansioso seus pais e irmã(ãs) saírem de casa para ir depressa até o enconderijo pegar a revista, abrir o saco com cuidado e descobrir que se tratava não de uma revista com fotos coloridas como mostrava a capa, mas sim de um livro de contos. Agora me diga, quem é que quer um maldito livro de contos sem uma foto sequer?
É amigos é o risco que se corre ao pedir para alguém fazer o que deveria ser feito por você mesmo.

Sendo assim, o melhor mesmo era conseguir esse tipo de material no mercado negro, ou seja, com o conhecido do amigo de um amigo seu. Geralmente ele cobrava de você um precinho "camarada" pelo material de primeira, mas algumas vezes, você conseguia de graça, eram os casos em que os caras mais velhos, com "outras coisas mais reais" em mente e em prática, deixavam o legado para os mais jovens.
Com o material em mãos era hora de juntar a galera e apreciar a natureza em sua forma mais primitiva. Aqueles desenhos em preto e branco despertavam os jovens homens presos em nosso corpos de meninos. A satisfação era garantida.

Depois de algum tempo estudando a arte era hora de guardar o material para consultas futuras. Aí cada um dava seu jeito. Alguns escondiam, deixavam com os amigos, camuflavam no meio de outras revistas, deixavam embaixo do colchão, no forro do teto, etc.
Eu particularmente bolei uma técnica, digamos, pirata. Construí uma caixa de madeira com sobras de caixas de uva, coloquei as revistas dentro de um saco plástico, coloquei dentro da caixa, cavei um buraco atrás do muro de casa, enterrei as revistas e marquei o local num tijolo do muro...
Lembro que foi tão cansativo que eu só tive coragem de desenterrar o material uma vez. Depois nunca mais enterrei denovo.


Outra forma que eu tinha de arrumar pornografia era na Festa da Padroeira da Paróquia de Areia, no mês de dezembro. Nessa época varias barracas de jogos e diversões iam para a cidade, dentre elas algumas vendiam uns artigos ilícitos para o garoto que pudesse pagar. Dentre os artigos estavam alguns baralhos eróticos (relativamente caros para se comprar com a mesada) e calendários de mulheres peladas (bem mais acessíveis). Eu comprava uns dois desses calendários, que geralmente mostravam belas moças montadas ou ao lado de cavalos, comprava o ingresso da Roda Gigante e esperava ficar lá em cima para sacar o calendário do ano passado do bolso e admirar a arte.

Lembro também que passar em frente das oficinas mecânicas sempre rendia um olhadinha nos pôsters das belas mulheres com roupas rasgadas... coitadinhas.

Mas aí meu bigodinho de 14 anos já estava nascendo e eu tinha certeza absoluta de que com ele poderia muito facilmente enganar a dona da Banca de Revistas.
Mas ela sabia, e eu sabia que ela sabia, que no fundo eu sabia que ela sabia que eu não tinha a idade do aviso na capa da revista. Mas mesmo assim ela vendia, sabendo que bons garotos não são moldados por uma simples revista.
Afinal, de que vale a vida sem um pouquinho de pimenta.

Grande Abraço a Todos!


Comentem suas aventuras!!


Até o próximo Post!


6 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkk.... não acredito que tu postou isso! Cara... hilário, dei gargalhadas aqui! Nossa cara, que sofrimento, tbm tenho umas hilárias desse "tipo". Melhor post de 2010! Cara, parabéns! Já recomendei!

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  2. kkkkkkkkkk Rapaz... o pior de tudo é que é tudo verdade. Menino é o cão rapaz... faz cada uma que ninguém imagina.
    Obrigado pelos elogios.
    Abração Lula!
    Continue ligado.

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  3. Companheiros, pode ser ironia do destino. Os comentarios serem nas mesmas datas, e todas as partes se identificarem com a postagem, não posso dizer que não fiz várias dessas também(deu vontade de chorar , lembrando-me de Areia, bons tempos!Parabéns Maurício, tive de sair do trampo para morrer de ri! valeu a pena!uahuahau.

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  4. kkkkkkkkkkkkkkkk, vixii, nesse tempo eu era ainda um garotinho ingênio, mas sentia algo estranho acontecer ao ver "aquela" empregada doméstica em certos trajes, crescia ali...lá em baixo...e um pouco acima dos joelhos um ainda desconhecido instinto natural...eita bagacera! Também lembro como se fosse hj o conhecido olhar da senhora da banca....kkkk...morri de ri aqui com essa nostalgia..muito massa, belo post Maurício, parabéns!

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  5. hahahahhah
    putz.. sensacional Maurício!
    Fui lembrando de cada detalhe dando risada aqui. Como é bom essa nostalgia hein.
    Abração meu velho!

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  6. Maurício, fazia tempo que um texto me provocava boas risadas, como esse teu o fez. Ele ficou muito bom! Deu pra sentir a inocência e a emoção das sapientes estratégias de um garoto.
    (A única banca de revistas de Areia é eterna).
    Cada guri com a sua odisseia particular, rs!

    Parabéns pelo blog! Abraço!
    Wandson Azevedo - PP

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